A dieta cetogénica é uma dieta em que existe uma reduzida ingestão de hidratos de carbono e uma elevada da ingestão de lípidos (gordura).
O objetivo da dieta cetogénica é promover uma diminuição das reservas de glicogénio (reservas de glicogénio do músculo e do fígado), induzindo uma condição metabólica, a cetose, na qual o fígado produz corpos cetónicos.
A produção de corpos cetónicos surge de forma natural como resposta do corpo ao jejum, exercício físico prolongado ou noutras situações em que existe um comprometimento dos hidratos de carbono disponíveis para serem utilizados pelo corpo.
Na dieta cetogénica o consumo de hidratos de carbono pode variar e ir no mínimo das 10g até a um máximo de 50g por dia (cerca de 10% das necessidades energéticas diárias), existindo um alto aporte de lípidos (>60% das necessidades energéticas diárias) e um consumo de proteína moderado.
Simultaneamente pode ser efetuado ou não uma redução do valor total de calorias ingeridas no dia, dependendo o objetivo de aplicação da dieta.
Mecanismo de ação - Como funciona a dieta cetogénica?
A dieta cetogénica estimula os efeitos metabólicos do jejum, promovendo a utilização das gorduras como fonte de energia.
Quando não existe o consumo de hidratos de carbono, por exemplo no caso do jejum ou quando o consumo de hidratos de carbono é muito reduzido, o corpo procura vias alternativas de obtenção de energia, nomeadamente através da metabolização de gorduras.
Durante o jejum ou quando o consumo de hidratos de carbono é muito reduzido o corpo utiliza as reservas de gordura e produz corpos cetónicos. Os corpos cetónicos podem, por sua vez ser utilizados para a produção de energia.
A cetose ocorre não devido à elevada ingestão de gordura, mas devido à reduzida ingestão de hidratos de carbono.
Por norma, são necessários entre 2 a 3 dias, com um consumo de hidratos de carbono inferior a 50g por dia, para o corpo entrar na cetose.
Em que situações pode a dieta cetogénica ser aplicada?
A dieta cetogénica foi, inicialmente estudada e desenvolvida para auxiliar no controlo da epilepsia (distúrbio caracterizado pela ocorrência de convulsões), tendo começado a ser utilizada nos anos de 1920 para ajudar a controlar as crises convulsivas nestes pacientes.
Inicialmente, nos doentes com epilepsia, esta dieta consistia em manter os doentes em jejum durante 2 a 4 dias até se atingir um estado de cetose.
Na epilepsia a dieta cetogénica apresenta efeitos sobre o controlo das convulsões, porque os estímulos elétricos são atenuados pela utilização dos corpos cetónicos em vez dos hidratos de carbono como fonte de energia.
Atualmente, têm vindo a ser estudadas outras aplicações possíveis para a dieta cetogénica, como por exemplo para os casos de diabetes tipo 2 e de obesidade (excesso de peso).
Com o aumento cada vez maior do número de casos de obesidade, a dieta cetogénica tem vindo a ser cada vez mais estudada e utilizada para o auxílio da perda de peso.
Por norma, são necessários 2 a 3 dias para que o corpo entre no processo de cetose, no entanto o tempo necessário varia de indivíduo para indivíduo e tal depende do índice de massa corporal e das taxas metabólicas individuais. Assim, quando a dieta cetogénica é aplicada num contexto de emagrecimento existem indivíduos que perdem peso mais rapidamente do que outros.
A indução da cetose para situações de perda de peso tem um efeito positivo sobre a saciedade, permitindo a implementação de um plano alimentar com uma maior restrição calórica e uma melhor adesão ao mesmo, uma vez que o indivíduo sente uma maior saciedade com o mesmo.
No entanto, quando a dieta cetogénica é aplicada com o objetivo de promover uma perda de peso, esta não deve ser encarada como um estilo de vida, mas sim como uma fase transitória no processo de perda de peso.
Contraindicações da dieta cetogénica
A dieta cetogénica não é recomendada para todos os indivíduos existindo contraindicações e situações específicas em que não é de todo aconselhada.
Este regime alimentar está totalmente contraindicado em indivíduos com doenças em que está comprometida a metabolização das gorduras naquelas que requerem elevadas quantidade de hidratos de carbono.
São contraindicações para a aplicação da dieta cetogénica as seguintes condições:
Pancreatite;
Insuficiência hepática;
Distúrbios do metabolismo da gordura;
Deficiência primária de carnitina;
Deficiência de carnitina palmitoil transferase I ou II;
Defeitos na ß-oxidação;
Porfiria;
Deficiência de piruvato carboxíllase;
Doença da vesicula biliar ou indivíduos que tenham retirado a vesícula;
Distúrbios de comportamento alimentar ou histórico de distúrbios alimentares;
Incapacidade de manter uma nutrição adequada.
Existem alguns riscos associados à implementação de uma dieta cetogénica. A curto prazo podem ocorrer sintomas semelhantes à “gripe”, ou do "resfriado comum ou constipação" que resultam do processo de adaptação do corpo à dieta, como por exemplo, dores de cabeça, fadiga e tonturas.
A nível intestinal, como existe uma redução do consumo de fibra devido à restrição no consumo de legumes, frutas e grãos integrais, existe um risco de ocorrência de obstipação (“prisão de ventre”).
A longo prazo, os riscos associados à dieta cetogénica incluem pedras nos ris, doenças hepáticas e carências nutricionais de alguns micronutrientes, como vitaminas e minerais.
Antes da aplicação da uma dieta cetogénica deve haver uma avaliação clínica do indivíduo e consideradas as contraindicações e possíveis riscos associados, pelo que não é de todo recomendado que se inicie uma dieta cetogénica sem o devido acompanhamento e monitorização.
Que alimentos são permitidos e eliminados na dieta cetogénica?
Para que o corpo entre num processo de cetose é necessário reduzir o consumo de hidratos de carbono a um máximo diário de 50g, sendo necessário eliminar as principais fontes alimentares de hidratos de carbono.
Entre os alimentos que não são permitidos na dieta cetogénica temos, por exemplo: pão, cereais, arroz, massa, batata, leguminosas, determinados legumes (por exemplo, milho) e quase todas as frutas.
Relativamente à fruta, apenas são permitidas aquelas que apresentam um baixo teor de hidratos de carbono, dependendo sempre de indivíduo para indivíduo e do valor diário de hidratos de carbono permitidos.
Por outro lado, também um consumo excessivo de proteína (por exemplo: carne, peixe, ovos, lacticínios) pode impedir a formação de corpos cetónicos, isto porque muitos dos aminoácidos, quando consumidos em excesso podem ser convertidos em glicose (açúcar). Como tal, é necessário que exista um acompanhamento do indivíduo e monitorização da ingestão alimentar, evitando receitas que incluam estes alimentos.
Para que não ocorra uma ingestão de hidratos de carbono superior ao limite estabelecido para o indivíduo, os alimentos consumidos deverão ter um teor de hidratos de carbono reduzido ou mesmo nulo. Como exemplos de alguns alimentos possíveis de incluir num plano alimentar (ementa) cetogénico temos:
Carne, peixe, ovos (estes são fontes proteicas, pelo que o seu consumo deverá de ser ajustado às necessidades do indivíduo, de forma a não quebrar o processo de cetose);
Legumes como por exemplo alface, rúcula, agrião, espinafres, pepino, brócolos, couve-flor, espargos, couves, pimento, pepino, tomate, cenoura;
Frutas com baixo teor de hidratos de carbono – por exemplo os morangos, framboesas, coco, abacate;
Sementes – linhaça, sésamo, girassol, etc.;
Frutos oleaginosos – amêndoa, noz, pinhão, avelã, macadâmia (o consumo de caju e amendoim poderá ser reduzido ou mesmo eliminado dependo do total de hidratos de carbono permitidos por dia);
Lacticínios – queijos (em especial os queijos gordos), iogurte grego, natas;
Óleos – azeite virgem extra, óleo de abacate, óleo de linhaça, etc..
Devido à restrição alimentar própria da dieta cetogénica existe um risco de existirem carências nutricionais, pois poderá existir uma ingestão de alguns nutrientes insuficiente, como por exemplo a ingestão de vitamina A, C, K e ácido fólico.
Neste regime alimentar poderá haver assim a necessidade de suplementar, permitindo colmatar algumas das restrições alimentares.
É recomendado que exista uma orientação e acompanhamento por parte de um profissional com experiência em dieta cetogénica de forma a garantir que ocorre uma adequada ingestão de nutrientes, como as vitaminas, minerais e de fibras, assim como a inclusão das melhores fontes de gorduras.
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